É… A gente empenha com a saúde da criança, faz pré-natal, orienta-se em tantos quesitos e às vezes algo escapa: um oftalmologista ou um fonoaudiólogo que demorou a ser consultado, uma babá que não foi tão legal, e às vezes também uma cárie… Onde foi que errei? Não adianta chorar sobre o leite derramado, vamos agora procurar a solução.
No caso da cárie, o odontopediatra deverá ser consultado imediatamente. E como vai ser esta consulta? Vai doer? Mas meu filho é tão pequeno… Ele vai ficar com trauma?
O odontopediatra é um profissional preparado para lidar com estas questões. O mais forte nele é exatamente a psicologia. Portanto, em primeiro lugar, a família será recebida em um ambiente aconchegante, preparado para as várias faixas etárias. Os pais são entrevistados e orientados quanto à prevenção, e o dentista vai buscar a causa da cárie para que esta experiência não se repita. A criança é examinada após ambientar-se com o local. Se muito pequena, a posição usada é o joelho a joelho (o responsável e o dentista sentam-se frente a frente, de modo que a cabeça da criança fica no colo do profissional e o resto do corpo no colo do pai ou mãe). O profissional é ágil, pois às vezes ela chora, como aconteceria para uma troca de fralda, inclusive. Mas é incrível como um número grande de crianças passa por esta experiência sem choro algum. Pois a fantasia das historinhas, a música, a conversa amena e amiga a que o profissional recorre ajudam muito. E se o medo for maior e a criança assim mesmo apresentar uma resistência, por perceber todo este carinho e por acabar achando aquele ambiente legal, acaba se rendendo e gostando do dentista num segundo instante.
Após a avaliação da lesão de cárie, o profissional faz o planejamento para tratamento. Na maioria das vezes nesta primeira consulta não há intervenção, para que a criança adquira mais confiança no profissional. Quando muito, é feita a higiene bucal e, se indicada, uma aplicação de flúor.
Em várias situações, as lesões de cárie são apenas controladas, sem intervenção. É o caso das lesões que ainda estão apenas no esmalte do dente: umas manchas brancas e opacas, muitas vezes em forma de meia-lua nos dentes da frente, outras vezes apresentam-se entre os dentes, está apenas no esmalte e só é visível por radiografia. Em todos estes casos a lesão poderá ser paralisada com a tomada de medidas preventivas.
No caso da cárie já ter atingido a dentina, a lesão pode ser controlada com o que chamamos de adequação do meio bucal, ou seja, a cárie é removida parcialmente para que a criança dê conta do procedimento sem anestesia e o dente recebe o material indicado para a situação. Muitas vezes, se o profissional remove todo o material cariado num primeiro momento, pode expor o canal. E fazendo a adequação, favorece uma resposta do organismo, fortalecendo a parede fina que restou, antes de ser rompida pelos instrumentos de trabalho. Hoje, com a Odontologia da Mínima Intervenção, temos casos em que o selamento da lesão a inativa, sem a necessidade do famoso motorzinho.
O profissional avalia vários quesitos para tomar as decisões: comportamento e idade da criança (tratamentos que precisam muito da colaboração da criança podem ser adiados em alguns casos, e as lesões controladas para serem sanadas em um segundo momento), cárie ativa ou não (algumas crianças chegam com as lesões de cárie, mas ela está crônica, fora de atividade, pois já há algum tempo a família mudou um hábito que era nocivo para o dente), participação da família (fundamental para o sucesso do tratamento).
Algumas vezes, a eleição é mesmo pela anestesia para a remoção da cárie. E nem sempre é um bicho de sete cabeças. Para algumas crianças a anestesia traz um conforto maior, para outras a sensação de estar anestesiada traz certa angústia. O profissional vai saber achar o melhor caminho à medida que conhece a criança e com o apoio dos pais.
E durante todo o procedimento histórias e músicas rolam soltas, após a pesquisa cuidadosa da preferência do assunto da criança. Filmes que façam sentido para ela, assuntos sobre o sítio do avô, futebol, Bonecas, a prova que está estudando, alguma coisa engraçada, ou simplesmente um cantarolar que a família dá a dica. É tiro e queda: O profissional trabalha e a criança viaja na fantasia. Ela é chamada a participar levantando o dedo se quiser contar uma coisa interessante ou também se quiser que o dentista pare um pouquinho. Mas antes disso a criança é informada do que aconteceu em seu dente, por exemplo: “uma bactéria muito chata, que ela nem convidou para morar em seu dente, fez lá uma casinha e disse que não vai sair de lá. Mas com algumas armas secretas do dentista e ela ajudando (e então o profissional mostra para ela exercícios de relaxamento, de respiração, posição de abertura da boca, movimento e inclinação do pescoço, mão na barriga, etc.), a bactéria está perdida!”
E com todas as explicações possíveis, num linguajar próprio para cada idade e para cada criança, o intento é alcançado!
A visita periódica ao profissional deve ser feita para que a cárie torne-se uma história passada, pois muitos permanentes virão e ainda dá tempo de salvar a pátria!