Avaliação do Frênulo lingual em bebês

Já falamos aqui sobre alguns aspectos do Teste da Linguinha. A Fonoaudióloga Ms. Camila Dantas, consultora em amamentação e que integra a equipe de apoio às nossas mães, conta-nos hoje sobre o freio ou frênulo lingual do bebê, seu possível impacto na amamentação, avaliação (teste da linguinha) e eventual encaminhamento para frenotomia:

O Frênulo lingual caracteriza-se como uma prega mediana de túnica mucosa, que conecta a língua ao assoalho da boca, permitindo a parte anterior da língua mover-se livremente(1). Quando alterado pode restringir os movimentos da língua em graus variados, impactando nas funções do sistema sensório motor oral como: sucção, mastigação, deglutição e fala.

As alterações do frênulo lingual ou anquiloglossia, tem natureza hereditária e são mais frequentes em indivíduos do sexo masculino. Está associada à mutação do gene TBX22(2)

A incidência da anquiloglossia varia de 0,88% a 12,8% entre os bebês nascidos vivos(3). Coryllos(4), classificou as alterações do frênulo em 4 tipos: tipo 1, no qual o frênulo lingual está inserido no rebordo alveolar inferior, no assoalho da boca,  e no ápice da língua; tipo 2, o frênulo está inserido no rebordo alveolar inferior e entre o terço médio e o ápice da língua; tipo 3 e 4, são frênulos mais posteriores, que estão inseridos no meio da assoalho da boca, porém, a sua inserção na face sublingual está localizada mais para posterior ao considerarmos o terço médio da língua, o tipo 4, apresenta-se recoberto por uma membrana mucosa. 

Ainda não existe um protocolo “padrão ouro”, descrito na literatura para avaliar o frênulo lingual em bebês. Dentre os que existem o protocolo Bristol(5) e o Protocolo de avaliação do frênulo lingual para bebês (teste da linguinha)(6), proposto pela fonoaudióloga Roberta Martinelli, tem sido os mais utilizados. Ambos são validados, porém de acordo com nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde (MS) o Bristol, por ser mais objetivo, é a melhor opção como triagem, dentro do ambiente hospitalar. Ainda de acordo com o MS, tais protocolos devem ser realizados por profissionais da área da saúde com conhecimento sobre amamentação, tais como: Médico, Fonoaudiólogo, Dentista ou Enfermeiro(7)

A partir do resultado do teste e avaliação da mamada, quando necessário, o bebê deve ser encaminhado para a realização da frenotomia. Não há um consenso na literatura quanto à realização deste procedimento. No entanto, na prática clínica evidencia-se que bebês com alteração de frênulo podem apresentar dificuldade para amamentar, dificuldade para ganhar peso, provocar fissuras mamárias, dor ao amamentar, levando ao desmame precoce.

Diante do exposto, podemos considerar que a avaliação do frênulo lingual em bebês configura-se como uma importante medida de promoção ao aleitamento materno e combate ao desmame precoce

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Referências:

1 – Comitê de Motricidade Orofacial da Sociedade Brasileira de fonoaudiologia. www.sbfa.org.br/portal/pdf/dicionario_mfo.pdf

2 – Klockars, Tuomas, and Jorma Rautio. “Early placement of ventilation tubes in cleft lip and palate patients: does palatal closure affect tube occlusion and short-term outcome?.” International journal of pediatric otorhinolaryngology 76.10 (2012): 1481-1484.

3 – Marchesan, I. Q., Teixeira, A. N., & Cattoni, D. M. (2010). Correlações entre diferentes frênulos linguais e alterações na fala. Distúrbios da Comunicação22(3).

4 – Coryllos, E., Genna, I. C. W., & Salloum, I. A. C. (2004). Section on breastfeeding.

5 – Ingram, J., Johnson, D., Copeland, M., Churchill, C., & Taylor, H. (2015). The development of a new breast feeding assessment tool and the relationship with breast feeding self-efficacy. Midwifery31(1), 132-137.

6 – Martinelli, R. L. D. C., Marchesan, I. Q., & Berretin-Felix, G. (2013). Protocolo de avaliação do frênulo lingual para bebês: relação entre aspectos anatômicos e funcionais. Revista Cefac15(3), 599-610.

7 – Brasil. Ministério da Saúde. Norma Técnica nº9 de 20 de março de 2016. Orientar profissionais e estabelecimentos de saúde sobre a identificação precoce da anquiloglossia em recém-nascidos, como também estabelecer o fluxo de acompanhamento. Brasília (DF), 2016.

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Este texto foi escrito pela Fonoaudióloga Camila Dantas Martins, Especialista em Motricidade Orofacial, Mestre em Ciências da Saúde, Consultora em Amamentação, Formação em Laserterapia e Sócia da Clínica Consult Saúde.